26 de abril de 2025

Salvador mapeia Ilhas de Calor e revela tendência de aumento das temperaturas nas próximas décadas

Um estudo recente realizado em Salvador, como parte da campanha internacional Heat Watch, trouxe informações detalhadas sobre como o calor se distribui pela cidade e o que podemos esperar para o futuro diante das mudanças climáticas. A pesquisa do Observatório do Calor (Heat Watch) é financiada pela National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA) e executado pela CAPA Strategies e o Grupo de Pesquisa COLAPSO – Natureza e Sociedade do departamento de Geografia da UFBA. A coordenação do projeto do Observatório do Calor – Salvador é do Prof. Paulo C. Zangalli Jr e a coordenação ajunta é de Rebeca Cruz Lima, estudante da Graduação em Geografia. Contou com uma equipe de 22 voluntários, em grande parte, estudantes da UFBA, lideranças comunitárias de Ilha de Maré e teve apoio logístico da SECIS e da CODESAL.

A iniciativa, desenvolvida em parceria com pesquisadores, moradores e organizações locais, mediu as temperaturas em diferentes horários do dia — manhã, tarde e noite — para entender onde o calor é mais intenso e quais regiões estão mais vulneráveis.

O levantamento foi feito em um dos dias (23) mais quentes de janeiro de 2025 e confirmou um velho conhecido de quem vive na capital baiana: as altas temperaturas não afetam todas as áreas da mesma forma. A pesquisa apontou que os bairros com maior concentração de prédios, poucas áreas verdes e grande densidade urbana registraram as temperaturas mais elevadas ao longo do dia. Por outro lado, regiões com mais vegetação, como áreas com presença de florestas urbanas e árvores nas ruas, mostraram-se um pouco mais frescas.

Durante a tarde, período mais crítico do dia, a temperatura máxima registrada foi de 34,6°C, com uma diferença de até 6,5°C entre os pontos mais quentes e os mais frescos da cidade. Ou seja, enquanto algumas pessoas enfrentavam calor extremo, outras, em regiões mais arborizadas, viviam uma realidade bem menos agressiva.

Calor é um risco silencioso

Outro dado que chama atenção é que, mesmo à noite, Salvador mantém altas temperaturas em diversas áreas. O destaque fica por conta de Ilha de Maré. A ilha, mesmo com todo esforço das comunidades quilombolas em preservar a mata e garantir meio ambiente equilibrado, sofre com a exposição ao calor em decorrência de uma junção de fatores, como a direção dos ventos, a temperatura da água de superfície do mar, a posição geográfica na Baía de Todos os Santos (BTS) e, também, pelo calor produzido pelo Porto de Aratu, pela Refinaria Landulpho Alves e os complexos petroqúimicos e industriais. NA ilha de Maré, uma das áreas mais quentes da cidade, a amplitude térmica durante o dia e a noite pode chegar a quase 10ºC, o que não foi visto em nenhum lugar outro da cidade. O estudo mostra, ainda, que o calor acumulado durante o dia não dissipa completamente, o que pode dificultar o descanso e agravar problemas de saúde, principalmente em pessoas mais vulneráveis, como idosos, crianças e pessoas com doenças crônicas. Esse dado preocupa especialmente

O que esperar para o futuro?

Se o cenário atual já preocupa, as projeções para as próximas décadas acendem um alerta ainda maior. Utilizando modelos climáticos que simulam diferentes cenários de emissão de gases de efeito estufa, os pesquisadores estimam um aumento significativo nas temperaturas de Salvador até o final do século.

Entre os principais achados, destacam-se:

  • O número de dias com temperaturas acima de 32°C, que hoje gira em torno de 35 a 40 dias por ano, pode chegar a 150 dias até 2100 nos cenários mais pessimistas.

  • As noites quentes, com mínimas acima de 30°C, praticamente inexistentes hoje, podem acontecer em mais de 120 noites por ano até o fim do século, dificultando o resfriamento do corpo e aumentando os riscos à saúde.

  • A temporada de calor, que atualmente dura cerca de 3 meses, pode se estender para 8 a 9 meses ao longo do ano, ou seja, quase o ano inteiro sob altas temperaturas.

  • As chamadas “ilhas de calor” — regiões mais quentes da cidade — tendem a se expandir, cobrindo quase toda a área urbanizada de Salvador, especialmente até 2050.

Por que isso importa?

Essas informações ajudam a planejar políticas públicas e intervenções que possam reduzir os impactos das ilhas de calor, como o aumento de áreas verdes, o cuidado com a arborização urbana e a criação de espaços de resfriamento para a população, especialmente trabalhadores que estão mais expostos, como ambulantes, entregadores de aplicativos e trabalhadores informais. Porém, os resultados em Ilha de Maré apontam que é preciso sair do óbvio, já que lá, apesar de toda mata preservada a população é exposta ao calor. O estudo reforça também que as ações direcionadas às mudanças climáticas e a adaptação das cidades precisam caminhar juntos para proteger quem vive nos centros urbanos, principalmente os que já enfrentam vulnerabilidades sociais.

A campanha Heat Watch Salvador é um passo importante para que a cidade conheça melhor sua realidade térmica e se prepare para os desafios de um clima cada vez mais quente.

Os produtos gerados na campanha e os dados de uso público podem ser acessados clicando aqui

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